Capítulo 3 — Quando os dias começaram a parecer curtos demais

O verão tem esse estranho dom de nos iludir com a ideia de que há tempo para tudo.

Mas há um dia — um dia sem aviso — em que o relógio acelera, o sol desce mais cedo e o coração começa a contar o tempo de outra forma.

Foi mais ou menos assim com o João e a Lara.

Desde aquela primeira conversa na praia, passaram a encontrar-se sempre ao fim da tarde.

Nada combinado. Nada prometido.

Mas os pés levavam-nos um para o outro como se conhecessem o caminho de cor.

Falavam de tudo e de nada.

De livros, de infância, de medos antigos.

João descobriu que Lara adorava filmes antigos e que chorava sempre no final do mesmo.

Lara soube que João escrevia poemas mas escondia-os num caderno que nunca mostrava a ninguém.

— “Quero ler um,” desafiou ela certa vez.

— “Talvez… se prometeres que não ris,” respondeu ele.

Começaram a partilhar silêncios.

Aqueles silêncios bons, que não pedem nada e dizem tudo.

E foi nesses silêncios que começaram a aproximar-se mais.

A meio de uma caminhada à beira-mar, a mão dele roçou a dela. Não a segurou logo. Esperou.

E Lara, sem dizer uma palavra, apertou-lhe os dedos.

Era verão, mas o calor vinha de dentro.

O que nenhum dos dois dizia em voz alta era que os dias estavam contados.

O verão não dura sempre. E nem todos os verões se transformam em vida a dois.

Mas naquele instante, naquele toque tímido e intenso, os dias pareciam infinitos.

E o coração de João, que antes andava cansado, começou a sentir-se em casa.

Lara sorriu. E pela primeira vez, teve medo de que aquilo não durasse.

Continua...

Com carinho, 

Daniela Silva ✨️