Se o Natal tivesse um cheiro, seria o da primeira laranja descascada com as mãos frias.
O cheiro ácido a romper o ar gelado da manhã, como quem abre o Natal devagarinho, gomo a gomo.
Teria o cheiro das azevias ainda cruas, que a avó dizia para não roubar da taça — e eu obedecia mal.
O cheiro do óleo quente na frigideira, misturado com risos e dedos gordurosos a limpar no avental.
Cheiraria a pinheiro, mas também a poeira — daquela caixa velha onde dormem as decorações, com fita cola gasta e nomes escritos à pressa.
O Natal teria cheiro de lenha, de roupa molhada a secar perto do aquecedor, de chocolate quente com mais leite do que cacau.
Cheiro de colo. De casa cheia. De gente a chegar.
E mesmo quando a casa já não está assim tão cheia…
Mesmo quando o frio entra mais fundo e o silêncio é mais longo…
Ainda assim, há um cheiro que fica. Que nunca se lava. Que volta sempre.
O cheiro do Natal é o que nos faz fechar os olhos e, por um instante, voltar a casa. À casa de sempre, mesmo que ela já só exista dentro de nós.
Com carinho,
Daniela Silva ✨

Quando os meus pais eram vivos, o Natal cheirava a paz. Agora cheira a saudade! Bjs
ResponderEliminarCheirinho de alegria e risadas da criançada! beijos, chica
ResponderEliminar