Escrevo muitas vezes para sarar, mas também para deixar mensagens que possam tocar o coração de quem lê. Esta é uma história que nunca contei antes — não por medo, mas porque, durante muito tempo, senti vergonha. Agora, entendo que a vergonha não era minha. E escrevo-a porque acredito que partilhar é uma forma de libertar, de refletir… e de ensinar. Principalmente, para quem tem filhos. Porque há atitudes que deixam marcas, mesmo muitos anos depois.
Há muitos anos, no tempo do FreeFotolog, conheci uma rapariga que também era fã do Ricardo Quaresma, o meu ídolo do futebol. Eu tinha uns 17 anos e ela era mais nova — talvez entre os 13 e os 15. Falávamos com frequência online, fazíamos parte de um grupo de várias meninas que tinham o mesmo ídolo em comum. Só nos conhecíamos pessoalmente quando íamos ao estádio ou ao treino. Na altura, surgiu a oportunidade de irmos ao Centro de Estágio do Futebol Clube do Porto, onde eles treinam. A mãe dela era quem nos ia levar. Combinámos encontrar-nos num shopping para nos conhecermos pessoalmente e seguirmos todos juntos.
Fomos as duas com a mãe dela e o irmão, que conduzia. Quando cheguei, percebi que a mãe era muito fria. Não me cumprimentou, não sorriu, não me perguntou sequer se queria alguma coisa. Mas pensei que fosse só o nervosismo da situação.
Antes de sairmos do shopping, foram tomar o pequeno-almoço. Eu fui com eles, mas o desconforto era palpável. Como não tinha dinheiro comigo, fiquei ali só a olhar. Isso para mim faz um pouco de confusão, porque fui educada a partilhar e a nunca deixar ninguém plantado a olhar enquanto os outros comem.
Lá seguimos. Quando chegámos ao centro de estágio, esperámos cerca de 20 a 30 minutos no carro para ver se os jogadores apareciam. Estávamos todos no carro: a mãe no lugar do condutor, o filho ao lado, e eu e a minha amiga no banco de trás. De repente, a mãe vira-se para a filha e diz: “Vamos embora. Podemos vir outro dia.” A minha amiga ficou com os olhos cheios de lágrimas, sem forças para contrariar. Tivemos mesmo de ir embora. Eu senti-me devastada. Não por mim — já tinha estado com o Quaresma antes e tinha outros meios para estar — mas por ela. Aquilo era o sonho dela e estava prestes a acontecer.
Viemos embora. A mãe continuava fria e distante. Mais tarde, a minha amiga enviou-me uma mensagem. Disse que a mãe não queria que falássemos mais. Quando lhe perguntei se tinha sido por preconceito, ela negou — talvez para me proteger e também à mãe — e disse que a mãe estava era chateada porque pensava que nós nos conhecíamos da escola, e não da internet.
Naquela altura, éramos um grupo de fãs unidas por uma paixão comum. Ver fotografias dela, dias depois, com outras meninas do grupo só reforçou a ideia de que havia, sim, preconceito da parte da mãe. Se fosse apenas por me conhecer online, por que estava com as outras?
Nunca condenei a miúda por isso, não partiu dela, e não nos afastamos por nossa vontade. Embora ache atitude da senhora muito má, nada podia fazer, pelo que entendi, nem a própria miúda concordou, mas teve de obedecer.
Nunca contei isto a ninguém. Senti-me humilhada. É a primeira vez que partilho esta história. Não para crucificar ninguém — graças a Deus, já passou. A verdade é que já nem me lembro bem da cara da senhora. Mas escrevo isto porque a minha psicologia é o meu blog. É aqui que falo das coisas que me marcaram, e esta marcou.
Hoje, sendo mãe, sei bem que tudo o que faço é um exemplo para o meu filho. E acredito que certos comportamentos, quando carregados de frieza e julgamento — ainda mais à frente dos filhos — são uma lição errada. Nunca entendi o preconceito, o racismo ou o julgamento fácil, mas hoje sei que muitos filhos não vão ter orgulho em atitudes que viram os pais tomar. E que há feridas que, mesmo silenciosas, ficam para sempre em nós.
Com carinho,
Daniela Silva
Pois, como te compreendo
ResponderEliminarBeijinhos e muita força
Oi, Daniela, fiquei comovido ao ler seu texto, sinceramente comovido. Vou abster-me de comentar a atitude dessa mãe e de tantas outras. Só quero dizer que ao longo dos onze anos de existência do meu blog eu me joguei sem filtros nos textos que fui escrevendo, com toda a sinceridade. E descobri que isso era bom para mim, que isso que fazia era uma espécie de "blogoterapia".
ResponderEliminarHá pessoas e PESSOAS!
ResponderEliminarPreconceitos afastam, pena! Ainda bem seguiste a vida sem dela precisar!
beijos, tudo de bom, chica
Induce a riflessioni questo interessante articolo.
ResponderEliminarBuon fine settimana
Olá, Daniela.
ResponderEliminarFoi bom você compartilhar essa experiência. Sempre nos sentimos melhor quando podemos falar (aqui no caso, escrever). Uma situação bem difícil e só quem é vitima de algum preconceito sabe o que passa. Minha opinião é que as pessoas deveria simplesmente ignorar coisas como essas. Não vale a pena se desgastar emocionalmente dando forças para quem te ataca. Ignorar, creio, é o melhor. Procurar se blindar de tudo que vem de fora e que não seja bom. Porém, compartilhar essas experiências também é bom e vejo que você superou o episódio e ainda continua amiga da menina.
Me parece un buen ejercicio para elevar tus sentimientos después del comportamiento de esa señora hacía tu persona.
ResponderEliminarSaludos.
Olá, amiga Daniela.
ResponderEliminarHá situações que nos magoam sem dúvida. E esta que descreves nesta história, se encaixa na perfeição.
Nada mais terrível que a indiferença, o preconceito, por seremos diferentes de alguma forma.
Ninguém está livre de lhe acontecer algo na vida que, de repente fique diferente da maioria.
O respeito, a tolerância, a compreensão, o amor pelo próximo, são os pilares da nossa civilização.
Deixo os votos de um bom fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Oi, Daniela! Uma pena que tenhamos que lidar com situações assim! Dói demais saber que há pessoas se achando melhores que as outras neste mundo onde só se vence quando há união.
ResponderEliminarUm abraço!
Los prejuicios son lo peor . Me gusto tu relato. Te mando u n beso.
ResponderEliminarEu tenho repulsa de gente preconceituosa, racista, elitista, enfim...Ainda mais quando o preconceito é dirigido a crianças e jovens. E o resultado disso você mesma já concluiu: os filhos haverão de levar pela vida a lembrança
ResponderEliminarda atitude infame da mãe.
Beijo e bom fim de semana
Querida amiga Daniela, como é que pode numa mesa onde todos comem deixar de fora a pessoa, meu Deus?
ResponderEliminarQue situação!
Você é uma pessoa forte, para aguentar tudo que já passou...
Só conhecemos as pessoas quando convivemos em quatro paredes.
Uma lição de vida nos partilha.
Tenha um final de semana abençoado!
Beijinhos fraternos de paz e bem
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOi Daniel há pessoas pensam que o outro é inferior. E na verdade o inferior é o próprio preconceituoso. Que Deus nos. Ajude a sermos pessoas melhores. Parabéns pelo blog e pôster. Tenha um bom final de semana
ResponderEliminarsim, eu tb gosto de escrever pra pensar. beijos, pedrita
ResponderEliminarMeu blog é minha terapia com as minhas resenhas de beleza, livros, filmes e séries. As pessoais tenho uma agenda só para isso.
ResponderEliminarbeijos
www.luluonthesky.com
Uma história que inspira, principalmente aos jovens pais, semearem no coração dos filhos valores de tolerância que certamente se refletirão no futuro.
ResponderEliminarObrigado por partilhar.
Abraço.
O preconceito acaba afastando, mágoa a pessoa, infelizmente existem pessoas preconceituosas, Dani bjs.
ResponderEliminarHá pessoas que sentem prazer em ser arrogantes, mas são exatamente essas que devemos ignorar. Você é uma mãe linda e gentil, e é isso que importa.
ResponderEliminarSPOILER ALERT! 😺
Nova tirinha publicada.
Abraços 🐾 Garfield Tirinhas.
¡Hola! Interesante post :)
ResponderEliminarMinha querida eu também escrevo para desabafar o que me vai na alma!
ResponderEliminarO seu texto tocou - me e temos uma coisa em comum, adorava o Ricardo Quaresma! Fã nº1
Beijinhos esvoaçantes!
😀😀😀Megy Maia
Infelizmente situações como essa são mais normais do que deveriam... É lamentável!
ResponderEliminarBjxxx,
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Daniela, que força linda há na tua partilha.
ResponderEliminarÉ preciso muita coragem para transformar uma dor antiga e silenciosa em palavras que acolhem, ensinam e despertam. Teu texto não é só um desabafo: é um espelho onde muitos, em silêncio, vão se reconhecer. A frieza de quem deveria proteger dói mais do que o esquecimento. Mas tua empatia, mesmo tão jovem naquela época, mostra que tua essência já era doce, justa e generosa. Tu te entristeceste mais pela tua amiga do que por ti e isso diz muito. A gente cresce, amadurece, vira mãe ou pai… e entende que o que é pequeno para alguns pode ser o sonho inteiro de alguém. A tua atitude, hoje, é exemplo do que realmente importa: humanidade.
Obrigada por partilhar.
Escrever, como tu dizes, é também curar e, neste caso, curar mais do que uma: curar em ti, e tocar em nós.
Que teu filho cresça vendo exatamente isso: uma mãe que sente, pensa, acolhe e transforma dor em caminho.
Abraço
Muy buen reflexivo texto, amiga. Me dejas pensando. Muchas gracias...
ResponderEliminarObrigada pela presença, Daniela
ResponderEliminarSempre bom ter novas companhias nesse entretenimento que os blogs
proporcionam. Li o seu relato e infelizmente é estrutural o preconceito e não damos conta
de fugir dele., certo é isso _passar aos outros a nossa indignação, como fizestes. E superar _quando
possível ,denunciar. Um abraço e boa semana.
Olá, Daniela, vi pelo seu relato não apenas um gesto de preconceito, mas também
ResponderEliminara diferença de idade entre vocês, a mãe de sua amiga poderia, até, estar com inveja
da jovem que ela conduzia. Bom seria se a gente lesse o que estava nas entrelinhas,
ou seja, naquilo em que ela, essa senhora dizia para vocês jovens. Sem dúvida, o preconceito
é detestável. Em outras palavras, pessoas inseguras podem sentir inveja de pessoas jovens.
Votos de uma ótima semana para você.
Meu abraço, Daniela.
Olá, Daniela, li tua história e fiquei comovida, pois há coisas na vida
ResponderEliminarque magoam, e muito. Fiquei indignada com a atitude da tal senhora! Não se faz assim, a vida também é uma constante troca de educação e de afetos, caso contrário não há razão para continuar amiga de alguém.
Sabes, Daniela, ter um blog, ter amigos na blogosfera é uma maneira muito boa de sermos lidos e de lermos coisas que servirão para nossas vidas. Fiz muitas amigas queridas na blogosfera. As coisas que aprendemos servem para nossa reflexão, são excelentes, uma hora sempre lembraremos de algo que vai nos ajudar.
Gosto muito de você, da sua maneira de se comunicar e pelas verdades ditas. Uma excelente semana, com muita paz!
Um beijo pra você e outro para o teu filhinho!
Olá Daniela, tudo bem?
ResponderEliminarDevemos escrever primeiro para nós mesmos, pois, só assim poderemos alcançar os outros. Quando escrevemos para nós mesmos, como um diário ou reflexões, estamos usando a escrita para pensar e/ou meditar e, este é um ótimo método para esclarecer questões, falar sobre nossos dilemas, tornando um "blog", antes da "fera solta" (nossos textos, crônicas, narrativas, etc...), belos mecanismos de reflexões pessoais e íntimas.
Você escreve com o coração e a alma, e isso é ótimo.
Estou entre seus amigos nesta tua nova "aventura" na blogosfera.
Um abraço!!!
Ola querida Daniela!
ResponderEliminares hermoso e interessante o seu blog. Voce e uma bloguera muito talentosa, excelente amiga!
Beijos e abracos.
Il tuo blog è bellissimo,grazie del commento nel mio.Se si scrive ci si libera e hai fatto bene a raccontare.Buona giornata da Olga
ResponderEliminarDoceniam twoja szczerość i dziękuję że podzieliłas się z nami tą historią. Zachowanie tamtej kobiety było straszne i krzywdzące dla Ciebie. Ja też kiedyś miałam podobną historię. Nie jest to przyjemne gdy czegoś takiego doświadczamy. Niechęć innych potrafi być bolesna i nawet po latach to pamiętamy.
ResponderEliminarMam nadzieję że już nigdy Cię nie spotka taka przykrość. Ja już doświadczyłam wiele zła od ludzi ale wciąż się otwieram na nowe znajomości choć boje się zranienia. Ale człowiek jest istotą stadną i potrzebuje drugiego człowieka.
Coitada da menina que só queria ver o Quaresma.
ResponderEliminarAcho que agora, até você ri da situação.
Não foi legal eles comerem e deixar você olhando.
Gosto de escrever, mas gosto mais de ler.
Tenho esse Blog há 19 anos.
Beijo,