21 dezembro, 2025

★ Dia 21 — A Criança que Guardava Neve no Bolso


Diziam que era estranho, que não fazia sentido.

Mas ele jurava: no bolso do casaco levava neve.
Neve verdadeira. Fria, branca, brilhante. Neve do primeiro dia de dezembro.

Era uma criança como tantas outras — com os joelhos sempre esfolados, o olhar a fugir para longe e uma forma de estar que fazia os adultos franzirem a testa.
“É só imaginação”, diziam, abanando a cabeça.
Mas ele sabia. Guardava neve no bolso. E com ela, tudo o que era bom.

Guardava o riso da mãe quando lhe enfiava os pés gelados debaixo das mantas.

Guardava o cheiro das castanhas a estalar na frigideira.
Guardava o som dos sinos que se ouviam ao longe, a anunciar dezembro.
Guardava o silêncio bom da noite de Natal, quando ninguém dizia nada, mas toda a gente se amava.

A neve não derretia, porque não era feita só de gelo.
Era feita de memória. De pedaços pequeninos de amor que ele ia apanhando ao longo do mês, como quem coleciona tesouros invisíveis.
Cada floco era um instante guardado: um abraço apertado, uma gargalhada, uma palavra doce.

E no dia 25…
Ah, no dia 25 ele tirava a neve do bolso.
Soprava-a para o ar com toda a força do seu coração de criança.
E a casa enchia-se de magia. As luzes da árvore brilhavam mais, os sorrisos ficavam maiores, as saudades pesavam menos.
Ninguém percebia porquê. Só sentiam que aquela noite era diferente.

Só ele sabia: era a neve que guardava no bolso.
E o segredo maior não era a neve… mas a capacidade de guardar sem nunca perder.
Porque o amor, quando é lembrado, nunca se apaga.

Com carinho,

Daniela Silva✨

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