Dizem os mais velhos que, há muitos séculos, um cavaleiro generoso chamado Martinho viajava num dia frio e chuvoso, tão cinzento que até os pardais se abrigaram debaixo das folhas. Montado no seu cavalo branco — que, coitado, já estava farto de escorregar na lama — Martinho tentava encontrar abrigo, mas o destino tinha outros planos.
No meio da estrada, apareceu um pobre homem, encharcado até aos ossos, a tremer mais do que uma folha de videira. Martinho, bondoso, quis ajudá-lo… mas atrapalhado como era, ao tentar cortar a sua capa ao meio, acabou por dar um golpe tão torto que cortou também o cordão do cavalo. O animal, assustado, fugiu a galope, levando metade da capa pendurada no rabo.
Desesperado, Martinho correu atrás dele, tropeçando numa poça e caindo de chapéu dentro da lama — o que fez rir até os anjos lá de cima. Dizem que foi nessa hora que o céu se abriu, não de trovoada, mas de sol. O frio desapareceu e o vento calou-se: o famoso Verão de São Martinho tinha acabado de nascer.
O mendigo, com a metade da capa que restou, riu-se tanto que esqueceu o frio. Martinho, ainda com lama até às orelhas, levantou-se, sorriu e disse:
— Se calhar não sou santo ainda… mas já tenho pinta de milagre!
E desde então, todos os anos, o outono faz uma pausa, o sol regressa e o mundo lembra o cavaleiro generoso — e um bocadinho trapalhão — que, sem querer, criou o mais doce milagre do tempo.🍷🌰
Com carinho,
Daniela Silva 💜
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