História | A Casa na Colina no Outono

A chuva caía fina e constante, molhando o caminho de pedras que levava à velha casa na colina. Diziam que ninguém visitava aquele lugar há décadas, e que quem ousasse aproximar-se poderia ouvir sussurros vindos das paredes, vozes de quem ali vivera e desaparecera sem explicação.

Ana e Miguel, curiosos e impetuosos, decidiram desafiar o medo. A noite estava escura, iluminada apenas por relâmpagos ocasionais que riscavam o céu. Cada passo que davam parecia ecoar mais alto do que a própria tempestade. Quando chegaram à porta, esta rangeu como se respirasse, e um cheiro de madeira molhada e velhas lembranças entrou pelas narinas.

— Temos mesmo de entrar? sussurrou Ana, sentindo um frio percorrer-lhe a espinha.
— Não podemos voltar atrás agora, respondeu Miguel, tentando disfarçar o nervosismo.

Dentro, a casa estava mergulhada em sombras, mas algo parecia vivo. Quadros tortos nas paredes pareciam observar cada movimento; o chão rangia sob os pés, e portas fechavam-se sozinhas atrás deles. Num corredor estreito, ouviram passos suaves, mas quando se viraram, não havia ninguém. Apenas o vento que parecia brincar com a cortina gasta de uma janela.

Subindo a escada, encontraram um quarto com uma cama coberta por um lençol branco, agora amarelado pelo tempo. No canto, um espelho antigo refletia algo que não era apenas o seu reflexo: figuras indistintas, movendo-se lentamente atrás deles. Ana engoliu em seco. Miguel estendeu a mão, mas antes que tocasse o espelho, uma rajada de vento apagou a vela que traziam, mergulhando tudo numa escuridão completa.

Ouviu-se um sussurro claro:
— Não deviam ter vindo…

O coração deles disparou. Cada porta batia sozinha, cada sombra parecia ganhar vida. E, quando finalmente a vela voltou a acender, a casa estava vazia, silenciosa… mas a sensação de que algo os observava permaneceu, como se a própria casa guardasse memórias de antigos moradores e segredos que jamais deveriam ser revelados.

Ana e Miguel saíram correndo, prometendo nunca mais voltar à colina. Mas, ao longe, a silhueta da casa parecia sorrir, acolhendo a próxima alma curiosa que ousasse atravessar o portão em noites de chuva e vento.

No Halloween, alguns lugares lembram-nos que o medo pode ser tão sedutor quanto a própria aventura. E, às vezes, o arrepio mais intenso surge exatamente quando nos sentimos mais seguros.

Com carinho,
Daniela Silva ♡

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