A Lara era desconfiada por natureza.
Aprendera desde cedo a proteger-se do que era novo, do que surgia com pressa demais, do que falava alto e ria por tudo.
Gostava de observar antes de se entregar.
E naquele sábado, apesar de estar de férias com as amigas, o olhar dela pousava frequentemente sobre o rapaz da toalha azul-escura, sentado a ler com uma concentração rara.
— “Anda, Lara!” — chamava a Inês. — “Vamos molhar os pés!”
— “Já vou!” — respondeu, sem se mexer.
Não era o mais bonito da praia. Nem o mais falador. Mas havia algo na forma como ele segurava o livro, como franzia o sobrolho quando lia, como olhava em volta como quem queria estar ali… mas também não queria.
Quando o viu levantar-se e dirigir-se ao bar, o coração acelerou por um instante.
E quando ele parou ao lado dela na fila, e perguntou com aquele ar meio atrapalhado se o lugar estava ocupado… sentiu vontade de rir.
— “Só se for pelo destino,” respondeu.
E só então olhou bem para ele.
Os olhos castanhos eram calmos, sem pressas. Mas atentos.
E estavam presos nela.
— “És fã do Vergílio Ferreira?” — arriscou ela.
Ele abriu um sorriso.
— “És a primeira pessoa que reconhece o autor só pela capa.”
Conversaram ali mesmo, entre bolhas de riso, pedidos de sumos e passos desajeitados.
Lara percebeu que havia uma suavidade nele. Uma ausência de urgência. E isso acalmava-lhe o peito.
João não era daqueles rapazes que queriam impressionar.
E talvez por isso, impressionasse tanto.
Quando voltaram às respetivas toalhas, não trocaram contactos.
Mas passaram o resto da tarde a olhar um para o outro, como quem já sabe que há qualquer coisa a acontecer.
Naquela noite, Lara escreveu no seu caderno:
> “Hoje conheci alguém. Ainda não sei se vai dar em história. Mas pela primeira vez, quero descobrir.”
Continua...
Com carinho,
Daniela Silva ✨️
A suavidade no olhar e momento, a ausência de pressa. olhares trocados ainda que não trocados foram os contatos.
ResponderEliminarEstou adorando e esperando muito mais!
Tá lindo te ler!
beijos praianos, chica
Escrevendo deste modo você seduz mais depressa o leitor que o casal leitor de Vergílio Ferreira. O encanto da ficção está na sedução. É fazer do verossímil o real. Aposto que vai terminar em "fado", risos!
ResponderEliminarBeijinhos, Daniela!
Muito bom! Esperando a continuação.
ResponderEliminarDani,
ResponderEliminarMuito gostosa sua escrita.
Mas também é convidativa.
Vamos aguardar.
Bjins
CatiahôAlc.