Quando o verão queima mais do que devia

O verão tem aquela fama romântica: sol, gelados, mar, dias longos e corpos dourados.

Mas nem tudo são postais bonitos e pores do sol partilhados.

Para muitos de nós, o verão traz medo, angústia e um silêncio pesado que paira no ar como a fuligem de algo que arde — ou já ardeu.

Há dias em que o céu deixa de ser azul e se veste de cinzento fumo.

Dias em que abrir a janela é arriscar não conseguir respirar.

E para quem, como eu, tem dificuldades respiratórias, esses dias não são apenas desconfortáveis — são angustiantes.

É como se o ar deixasse de ser um direito e passasse a ser um risco.

E sei que não estou sozinha: idosos, crianças, pessoas com asma ou outras condições respiratórias sentem o mesmo.

O calor extremo e o fumo tornam-se inimigos invisíveis.

E a verdade é que ninguém devia ter medo de simplesmente respirar.

Portugal, um país que arde todos os verões

Todos os anos, Portugal enfrenta incêndios florestais violentos.

E embora a maioria fosse evitável, eles continuam a surgir — uns por descuido, outros por crime.

E sim, há uma taxa significativa de fogos que são intencionais.

Parte deles provocados por pessoas com perturbações mentais, outras por quem é pago para destruir.

É cruel, é real.

Enquanto uns ateiam, outros perdem a casa, os animais, as memórias... e por vezes, a vida.

Prevenir é mais do que um dever — é um gesto de amor

É fácil apontar o dedo ao calor, ao clima, à sorte.

Mas prevenir incêndios começa com pequenos gestos de responsabilidade:

Não fazer queimadas ilegais.

Não deixar lixo no mato.

Não atirar beatas pela janela.

Parece pouco — e é — mas o impacto de um descuido pode ser irreversível.

E sim, prevenir também é exigir justiça e vigilância para que quem destrói seja responsabilizado.

Porque florestas não são apenas árvores — são lar, são oxigénio, são vida.

O verão não devia ser sinónimo de luto.

Devia ser tempo de descanso, de alegria, de tranquilidade.

Mas enquanto não olharmos para a floresta como olhamos para os nossos filhos — com respeito, cuidado e amor — ela continuará a gritar por socorro.

E nós, a sufocar.

Evitar incêndios começa com o que parece óbvio, mas é tantas vezes esquecido. Limpar terrenos, cortar mato seco, manter áreas rurais desimpedidas. Não fazer queimadas nos meses de risco, não deitar beatas pela estrada, não acender fogueiras perto da vegetação. Denunciar atividades suspeitas e seguir as recomendações da Proteção Civil. A floresta não se protege sozinha — depende de nós. Cada gesto responsável pode ser a diferença entre um verão seguro e uma tragédia.

Não deixes que a normalização do desastre te cale.

O que hoje queima lá longe, amanhã pode estar à porta de casa.

Com carinho,

Daniela Silva ✨️