2025 está a chegar ao fim, preso apenas por um fio ténue de dias, e como faço todos os anos — e como muitos de nós fazem — sinto a necessidade de parar e olhar para trás. Não por nostalgia vazia, mas por necessidade de compreender. Este exercício de balanço ajuda-me a perceber onde estive, quem fui e, sobretudo, quem me tornei. Não vou mentir: 2025 não foi um ano fácil. Mas também não foi um ano perdido. Aliás, olhando com honestidade, posso dizer que, desde 2020, este acabou por ser o melhor dentro do possível. Nada supera o facto de ter engravidado em 2020, o nascimento do meu filho em 2021 e cada segundo da sua vida desde então — isso é intocável, é o meu milagre maior. Mas fora esse amor absoluto, este ano trouxe-me aprendizagens duras, sim, mas também vitórias silenciosas que merecem ser reconhecidas.
Não foi o ano que eu idealizei, mas foi o ano que Deus planeou para mim. E isso, com o tempo, aprende-se a aceitar. No meio de um mundo cada vez mais instável, e de um Portugal cansado, desgastado e socialmente desigual, dou graças por conseguir viver com dignidade dentro das minhas limitações. Dou graças pelo meu filho, pelos meus pais, pelas pessoas que permanecem e por aquelas que, mesmo à distância, continuam presentes. Nem tudo correu bem, mas nem tudo correu mal — e isso, por si só, já é motivo de gratidão.
Janeiro marcou-me de forma profunda. Foi nesse mês que recebi o diagnóstico de autismo do meu filho. No fundo, sempre soube. Há coisas que uma mãe sente antes de qualquer médico confirmar. Sempre senti que o meu filho era especial, mas durante muito tempo neguei essa verdade em silêncio. Rezava todos os dias para que não fosse autismo, não por rejeição — nunca — mas pelo medo. Medo de não ter forças suficientes, medo do mundo, medo das injustiças que ainda recaem sobre as pessoas com necessidades especiais. Eu própria sei bem o que isso é. Quando o diagnóstico chegou, chorei. Chorei muito. Não por desilusão, mas por receio de falhar, por amor em excesso e por uma avalanche de pensamentos que não se controlam.
Durante essa noite, Deus acalmou-me. E foi aí que percebi que nem sempre entendemos os planos à primeira, mas eles existem. O autismo sempre foi um tabu para mim, um tema distante, mal compreendido. Desde então, tenho aprendido — com profissionais, com leituras, mas sobretudo com o Francisco. Ele ensina-me todos os dias. O amor que sinto não diminuiu, fortaleceu-se. Cresceu de forma avassaladora. Hoje sei que ele não precisa de menos expectativas, precisa apenas de mais compreensão. E peço a Deus que me permita ficar cá muitos anos, para o ver crescer, vencer à sua maneira, errar, aprender e ser profundamente amado.
Outro momento que marcou 2025 de forma intensa foi a espera pelos resultados das análises do Francisco para saber se ele era portador da minha doença. Foram semanas de ansiedade silenciosa, daquelas que não se explicam. Tentava manter-me serena, mas o medo instalava-se à noite, quando tudo ficava em silêncio. Nenhuma mãe está preparada para a possibilidade de ver o filho herdar uma condição que conhece tão bem na própria pele. Quando finalmente recebi os resultados e percebi que ele não tem sequer um traço do gene, senti um alívio que não cabe em palavras. Chorei de gratidão. Foi como se Deus me dissesse, com delicadeza: “Descansa.” O Francisco tem autismo, sim — mas isso não é doença. É apenas parte de quem ele é. E ele é inteiro, forte e perfeito assim.
2025 trouxe-me também uma vitória física importante: a perda de 30 quilos. Para alguém com uma condição sedentária, com limitações reais e dores constantes, isto não foi apenas uma mudança no corpo — foi uma conquista emocional. Não foi um processo fácil, nem rápido. Houve desistências mentais, houve cansaço, houve dias em que parecia inútil continuar. Mas continuei. Pela minha saúde, pelo meu futuro e pelo meu filho. Já não me peso desde abril, mas continuo na luta diária, consciente de que cuidar de mim não é vaidade, é sobrevivência.
Outro ponto alto do ano foi a mobilização coletiva em torno da aprovação da medicação para a minha doença. Conseguimos, no mínimo, cerca de 14 mil assinaturas. Num mundo cada vez mais individualista, este gesto coletivo devolveu-me alguma fé nas pessoas. Foram muitas partilhas, muitas explicações, muita persistência. E sim, a medicação acabou por ser aprovada. Ainda não chegou a todos, mas já está acessível à maioria. Para quem vive com a doença, isto não é apenas um medicamento — é dignidade, é qualidade de vida, é esperança.
Depois de dois anos à espera, recebi finalmente resposta do CAVI, o programa que permite a pessoas com deficiência terem apoio à vida independente através de uma assistente pessoal. Foi um alívio enorme. Tive sorte na pessoa que me foi atribuída e tudo tem corrido bem. No entanto, existe um receio legítimo: o programa passou recentemente para a Segurança Social, que pretende torná-lo pago. Isso seria devastador, tanto para os utentes, que não têm condições financeiras, como para os próprios assistentes. Resta-nos torcer para que este apoio não seja destruído por decisões burocráticas insensíveis.
Por fim, e com todo o respeito, deixo uma nota política — algo que raramente faço. Vivemos num país democrático, com liberdade de expressão. Não sou, nem serei, a favor do Chega. Não preciso de ser especialista em política para reconhecer discursos perigosos, populistas e vazios de soluções reais. O país está pior, sim — mas convém lembrar que é a direita que governa. A história repete-se. Quando votamos, devemos fazê-lo com consciência, pensamento crítico e responsabilidade. Há muitos partidos. Escolham com inteligência.
Deixo também uma nota pessoal sobre o mês de dezembro. Tenho estado menos presente no blog e nos comentários, não por falta de carinho ou interesse, mas porque estou a trabalhar noutras coisas que fazem parte deste projeto e que terão continuidade em breve. Janeiro trará o meu regresso mais próximo, com a mesma dedicação e presença de sempre.
2025 termina assim: com feridas, com aprendizagens, com fé renovada e com a certeza de que sobrevivi. Que cresci. Que amei mais. E isso, no fim de tudo, é o que realmente importa.
A quem me lê, acompanha e permanece: desejo-vos um Ano Novo com mais calma, mais consciência, mais amor e menos pressa. Que 2026 seja gentil convosco, mesmo nos dias difíceis.
Com carinho,
Daniela Silva 🤍

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