Carta à minha avó Miquelina

Querida Avó Miquelina,

Hoje o Porto está em festa. As ruas brilham com as cores de São João, há música, há cheiro a grelhados no ar e risos que se espalham até de madrugada. Mas, para mim, esta noite tem um brilho diferente. Porque neste dia, celebrava-se também a tua vida. Hoje, mais do que nunca, sinto a tua falta.

 

Tinhas um nome bonito, Miquelina, e mesmo que eu tenha estado pouco tempo contigo, há partes de mim que ainda se lembram do teu colo. Eu era tão pequena quando partiste — só tinha seis anos — mas há coisas que resistem ao tempo. Coisas que se guardam no corpo e na alma, como se fossem cheiros ou canções antigas.

Sabes quando penso mais em ti? Quando sinto o cheiro do café acabado de fazer. É automático: o aroma enche a casa e parece que de repente estás ali, na cozinha, com o avental posto e um olhar meigo. Às vezes fecho os olhos e finjo que é real, só para poder ficar mais um bocadinho contigo.

Tenho uma memória tão nítida, talvez a mais viva de todas: dormir entre ti e o avô. Sentia-me protegida, segura, inteira. Como se nada de mau pudesse acontecer naquele espaço apertadinho mas cheio de amor. Que saudades desse tempo em que tudo era tão simples e tão cheio de ternura.

Hoje olho para o céu iluminado pelos balões de São João e imagino que um deles te leva esta carta. Que, onde quer que estejas, consigas senti-la — não com os olhos, mas com o coração. Porque mesmo sem muitas lembranças, tenho a certeza de que o amor que me tinhas ainda vive dentro de mim.

Feliz aniversário, avó. Que as estrelas te cantem os parabéns esta noite, e que o céu tenha o mesmo calor do teu abraço.

Com todo o meu amor,

Daniela Silva ✨️