Nem tudo no verão é sol — e ainda bem

Nem tudo no verão é sol.

E, honestamente, isso consola-me.

Há quem espere o verão o ano inteiro — pelas férias, pelas praias, pelas festas e pelos dias que parecem nunca acabar.

Eu percebo. Mas nunca fui inteiramente fã desta estação.

O calor pesa-me nos ombros. A luz intensa nem sempre me acalma. A obrigação de estar “bem-disposta porque é verão” esgota-me mais do que anima.

Há coisas no verão que simplesmente me incomodam.

Não gosto do calor extremo. Faz-me sentir mal, esgota-me, faz doer o corpo e tira-me a vontade de fazer o que quer que seja.

Não gosto de estar a suar. Não me sinto feliz nem “viva” por isso — só desconfortável, suja, fora de mim.

Não gosto das mochas, nem dos mosquitos, que parecem ter o verão como época alta para nos atormentar.

Não gosto dos incêndios, que devoram vidas, paisagens e esperanças.

Não gosto do ar seco e pesado que nos sufoca quando o calor aperta.

Ainda assim…

Gosto de passear junto ao mar, de sentir o calor bom no corpo à sombra de um toldo.

Gosto de beber água gelada e da calma que certas manhãs de verão conseguem trazer.

Gosto das noites quentes em que o silêncio é só interrompido pelas cigarras — desde que estejam longe de mim.

Gosto das refeições livres, feitas com sabor e carinho, assim como gosto da marca do biquíni que me identifica — sem complexos, com orgulho.

Não preciso de andar descalça pela casa para sentir o verão. Sinto-o na pele, na luz, nos sons, nos pequenos detalhes que me rodeiam.

O verão, para mim, acontece em silêncio — e com consciência.

É uma estação de contraste.

Entre a leveza que se espera e o peso que nem sempre se vê.

Entre a liberdade dos corpos ao ar livre e o recolhimento que muitos de nós ainda precisamos para nos sentirmos inteiros.

Mesmo assim, há beleza nisto.

Na sinceridade de não fingir que o verão é só alegria.

Na capacidade de encontrar pequenos refúgios — um copo de água fresca, uma toalha húmida na nuca, uma tarde sem exigências.

No espaço para ser, mesmo quando tudo à volta parece gritar “faz! vive! aproveita!”.

Talvez seja isso que me ensina esta estação:

Que o verão não precisa de ser perfeito.

Nem eu.

Com carinho, 

Daniela Silva ✨️